24.7.07

O rei continua nu!

1ª edição, 7 de maio de 2007

A história de um garoto que nunca se engana, mas que também não consegue convencer, nem falando a verdade

Há dois anos, um rapaz havia traçado um objetivo em seu caderno de sonhos e logo o realizou. Começou a fazer parte de um grupo que ele conhecia só por falar: os universitários. O novo integrante da universidade era cheio de ilusões, “pra mim era tudo perfeito: horas na sala de aula, freqüentando laboratórios, madrugadas planejando seminários, tardes na biblioteca pesquisando, discussões sobre temas polêmicos, estudo de campo, pesquisas e viagens...”, relata.

Segundo o jovem foi muito bom ser chamado de calouro, mas o ritmo da universidade não lhe agradava. “Primeira semana de aula passou, a segunda chegou ao fim, um mês e outras semanas vieram, o fim do semestre já aproximava e eu mal havia feito uma avaliação, nem conhecia os professores direito, nem eles a mim. Eu chegava às oito horas e saía dez, assinava a lista, pegava umas apostilas e respondia alguns exercícios, parecia o quarto ano do ensino médio”.

Um dos seus colegas diz que ele não sabe o sentido de universidade, “ele quer assistir aula, pensa que aqui é uma particular”. O professor do curso também não entende o inconformismo do aluno, “será que ele não está satisfeito?”, pergunta como se todos tivessem que responder ‘estou muito satisfeito com o curso’. Todos ridicularizaram o jovem calouro, que não acreditava ouvir os comentários dos colegas e professores.

De sonhador para um sonhador inconformado. A universidade havia provocado uma transformação, ele revela que chegou a se questionar se seria o errado, afinal era o único descontente, mas não encontrava explicação para a acomodação dos seus colegas e não entendia como o descaso fazia tão bem.

“Eu estava diante de duas alternativas”, conta, “acomodar como eles, se entregando para o descaso e o desrespeito, ou seguir firme em busca do meu objetivo, evidenciando a realidade aos que teimavam em não vê-la”, e foi o que ele fez. “Eu não queria que os meus anos dentro da universidade servissem apenas para conseguir um diploma de uma formação equivocada”, explica, “tive que me dispor a encarar os contrários para garantir o respeito de todos: sozinho, eu comecei uma guerra a favor da coletividade”, relembra com lágrimas nos olhos.

“Um dia ele entrou na sala, interrompeu a aula e aos gritos iniciou um discurso inflamado com a expressão 'o rei está nu'”, relata um dos seus grandes amigos, “percebi que era verdade e fui lutar com ele, porque o rei estava realmente nu”.

Depois daquele dia, o garoto iludido, passou a expressar revolta, descontentamento, indignação e mais decepção. Hoje nada mudou, inclusive ele, que continua o mesmo garoto decepcionado. Apesar de, com o seu amigo, serem os únicos descontentes, ele sustenta a base do seu discurso: “para se levantar é preciso abrir os olhos, descruzar os braços e estender as mãos ao alcance de outras, para juntas unir-se às demais em um só objetivo: levantar-se”. Hoje, infelizmente, o rei continua nu, e muitos continuam cegos.

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