30.9.06

Segunda Edição

EDITORIAL

Para muitos o voto é o exercício da cidadania. Mas, de que adianta eleger um político que depois não será fiscalizado, cobrado e acompanhado por seus eleitores? O papel do eleitor é apenas votar?

O período eleitoral de 2006 teve uma coisa incomum dos outros anos: o clima de insatisfação e de acomodação por parte do eleitor. As campanhas dos candidatos não apelaram tanto. Não houve embates, agressões ou linchamentos. Talvez não tiveram oportunidades, ou então perderam a moral para tal. As duas premissas são válidas. Lula, quem mais poderia ter sido vítima de agressões e linchamentos públicos, fez questão de não comparecer em debates e os deputados, principalmente, não estavam dispostos a fazer uma campanha explosiva, já que o mandato de muitos que explodiu com a reputação do Congresso Nacional. Aliás, ele já teve alguma reputação? Acho que não, mas só agora isso veio a público, como uma bomba, o sensacionalismo da mídia criou o espetacular período de corrupção que afetou o Brasil. E por quê? É simples: a quem pertence a mídia? À direita conservadora, que esteve no poder antes de Lula. E quem é maioria no Congresso? A esquerda, hoje vista como a responsável pela implantação (quem sabe até a criação) da corrupção.

Nosso blog pretende criar em você, leitor e eleitor, um olhar um pouco mais crítico e questionador, livrando-se um pouco da máquina reprodutora que você (quase) se tornou. Passando a enxergar os lados escondidos, mas que são reais e que fazem parte de todo esse processo chamado política. Sua responsabilidade vai além do voto. Sua responsabilidade é agir politicamente, lutar pela reconquista do seu espaço, antes que os mal intencionados, seja a mídia ou o Congresso, tome de vez o controle das nossas ações. Nossa luta, por exemplo, é pela alternativa, pelo segundo ponto de vista, longe das mensagens da grande imprensa e voltada para você, a quem nos interessa.

Eleições... Pra quê?

Por Ailton Fernandes

As eleições começaram e terminaram do mesmo jeito: sem conseguir despertar nos eleitores as discussões a respeito das propostas, das idéias e da importância do voto, principalmente. Os fatos que antecederam o processo eleitoral justificam o porquê da apatia: denúncias, CPI’s, brigas, desaforos, armações, mensaleiros e sanguessugas, ataques e palhaçadas. Teve deputado fazendo de tudo para se livrar, outros se fazendo de vítima. Teve ministro demitido, presidente fugindo e muitos políticos aproveitando do episódio para dizer: “em meu partido não tem nada disso”, “eu não estou envolvido”, “eu sempre disse que esse ou aquele não era gente para se confiar”. Tudo que vinha à tona era motivo para derrubar e exaltar, era motivo de conquistar mais uns votos e tirar o voto de outros.

Nisso tudo, um personagem importante foi esquecido: o eleitor. Então, como o eleitor poderia se envolver como deveria? A política se tornou ainda mais assunto para político. Somos seres políticos por natureza: são inevitáveis os atos e os meios que nos fazem buscar o bem estar, o bom relacionamento, influenciando nas nossas escolhas e no nosso jeito de ser e de pensar e vice-versa. Porém, esse nosso instinto foi destruído pela manipulação dos “donos da verdade”, das mensagens compradas e veiculadas pela Globo e Veja, por exemplo. Nos tornamos o produto vendido pela grande mídia, nos adequamos ao modo como pensa as elites dominantes, a quem pertence os latifúndios, os media, os bancos e as multinacionais.

A ela não interessa uma massa pensante e autônoma, a ela interessa um povo homogêneo, sem capacidade crítica e reflexiva. Portanto, conseguiu. Lula vai ser reeleito, certamente. A direita ainda vai conseguir um grande número de votos. Envolvidos em escândalos, desde os mais antigos aos mais recentes, como Collor, Malluf e Severino Cavalcanti, podem retornar ao Congresso, e surpreender (?!). Muita gente não vai comparecer nas seções, votar, para muitos, não faz sentido.

Pare para analisar a realidade do nosso país, pare para fazer política, busque conhecer em quem você estará votando, em quem você confiou seu voto. Pode não ter muita importância para você, mas e se todos pensassem assim? Tenha em mente que o discurso harmonioso e a propaganda bem feita e convincente têm somente um objetivo: conseguir seu voto. Mas é bom que saiba que quem é eleito coloca acima de tudo o que ele tem como interesses próprios, afinal ele precisa retribuir quem contribuiu em sua campanha, precisa dá emprego ao cabo-eleitoral, e depois, não se engane, ele não vai lutar pelo povo, ele vai lutar por reconhecimento, ele vai buscar visibilidade, para, nas próximas eleições não ter que gastar tanto com propaganda.

Assuma sua posição e, com consciência, busque quem vai fazer isso de uma forma que lhe agrade também. O difícil é encontrar, estão todos, ou quase todos, corrompidos e comprometidos com o sistema mesquinho da política brasileira. Portanto, abrace a seguinte causa: reforma política decente e já!

Seria Cômico, se não fosse Drástico

Por Natália Oliveira

Assistir o horário eleitoral se tornou para muitos brasileiros uma opção de lazer, seria melhor um bom filme de comédia, sem dúvida. Ando escutando pelas ruas as pessoas comentando as cômicas aparições dos candidatos como “o aposentado não está morto!”, Doutor X e demais “personalidades” com total descontração e divertimento. Esses dias alguém me disse: “Quando você estiver de mau humor, liga a TV no horário eleitoral, passa rapidinho”. Tentando compreender as razões que levam meus compatriotas a agir de tal maneira, achei melhor não responder a esse “conselho”. Mas a vontade imediata que tive naquele momento foi de dizer que não, meu mau humor em época de eleição não passa assistindo ao horário eleitoral, ele piora, e muito. É o sábio o ditado seria cômico - sem dúvida, basta olhar para Mamãe- se não fosse trágico, mas é trágico assistir pessoas descompromissadas invadindo às nossas casas e fazendo pouco de nossa inteligência com um discurso desgastado, ridículo e acima de tudo vazio.

Nestas eleições a veia cômica atingiu aos candidatos, antes, eles tentavam atingir o povo pelo drama, pelo escândalo, agora é pelo riso. O brasileiro acostumado com falsas promessas e denuncias de corrupção surgindo como areia no deserto vem perdendo a fé no poder transformador da política e passou a considerá-la apenas mais um meio de manipulação das massas em favor de questões individuais (mas não é isso que a grande maioria dos políticos pensa também?) e dessa maneira não há razões para levar política a sério, se não dá pra levar a sério então vamos nos “divertir” com ela.

Apesar de perfeitamente compreensível essa atitude é extremamente perigosa, pois determinados políticos são capazes de detectar este tipo de pensamentos e partir para o ridículo na tentativa de adquirir em meio ao público, que há muito anda frustrado com discursos “sérios”, certa credibilidade por estarem sendo sinceros. É como diz a campanha do candidato-forrozeiro, Edgar Mão-Branca “coragem para ser autêntico”, mas em que acrescentará essa “autenticidade”? Espero que o tempo não nos diga, pois se o fizer, é por que essas pessoas foram eleitas e sem sombra de dúvida a resposta do tempo não será nada agradável.

Rapidinhas

Voto nulo

O voto nulo não anula mais eleição. A afirmativa é em parte verdadeira, já que o Congresso, preocupado com o crescimento dos adeptos por esta opção, resolveu suspender tal direito, sob a justificativa de estar sendo mal interpretado. Só que isso foi feito há cerca de um mês antes das eleições e segundo a própria legislação, as mudanças na lei eleitoral só são válidas se feitas com seis meses antes. A afirmativa vale, mas caso haja mais de 50% dos votos nulos, ela pode ser revogada, motivo pra isso existe, basta recorrer.

Mais votado I

Segundo pesquisa IBOPE, Paulo Malluf será o deputado federal mais votado do Brasil. Isso, ele mesmo, Malluf, candidato pelo PP por São Paulo, e conhecido mundialmente por suas contas milionárias no exterior.

Mais votado II

Você lembra quem foi o mais votado em 2002? Enéas Carneiro (PRONA-SP), e com pouco tempo foi caçado por envolvimento em escândalos de corrupção, e tenta reeleição.

Mudanças?

As mudanças que iniciaram a dita Reforma Política adiantaram de alguma coisa? Proibir pintar muro e outdoor, camisas e bonés... Se o problema for com as declarações dos gastos em campanha, isso não resolve nada. Não faz outdoor, mas espalha placas pela cidade, não pinta muro, mas pregam cartazes. E quem compra voto não é com camisa e boné. O problema é que quem “reforma” é quem quer tudo deformado.

Fiscalize

No site www.transparencia.org.br você encontra informações importantes sobre os políticos, desde suas principais realizações, como o envolvimento em algum escândalo e sua declaração de bens. É uma forma de acompanhar e conhecer a trajetória de quem você votou ou vai votar.