6.9.07

O primeiro encontro

11ª edição
O Erecom SE sob a olhar dos iniciantes em encontros estudantis de comunicação, Ailton Fernandes (Conquista) e Luís Osete (Juazeiro)

"Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem". Refletir sobre as palavras de Rosa Luxemburgo nos remete ao esmaecimento dos movimentos sociais e à perda do seu espaço. O não se movimentar e a conseqüente adaptação às correntes são singularidades entre diferentes categorias sociais. O movimento estudantil não está de fora desta realidade e há várias tentativas para reorganizar o despertar. Hoje, relembrar a frase é o mesmo que dizer em alto e bom som: "acorde, levante e lute".
O Encontro Regional dos Estudantes de Comunicação em Aracaju, que reuniu os estados de Alagoas, Bahia e Sergipe, conseguiu soltar esse grito de ordem. Voltado para as questões ambientais, o Erecom 2007 da regional Nordeste I foi um espaço de debate e discussões acerca de questões relativas à comunicação, tanto a nível regional como nacional.
Durante os cinco dias de atividades, o evento ofereceu diferentes espaços em sua programação para cumprir o seu caráter político, social, cultural, científico e lúdico. Os temas em debate e as discussões pretendidas foram, e são, importantes para a formação da militância. Quem conheceu o Movimento de Comunicação a partir do Erecom SE teve a oportunidade de conhecer as bandeiras levantadas pela Enecos e de se inserir no movimento a partir dos resultados de cada atividade.
Mobilizar, planejar, articular e integrar foram algumas das ações que o encontro propiciou. Apesar da programação não ter reservado um espaço livre para reuniões dos coletivos, elas aconteceram. O coletivo Bahia conseguiu indicar, por exemplo, algumas estratégias para o fortalecimento do Mecom no estado. Mas a ausência do espaço livre influenciou no esvaziamento de algumas atividades programadas, devido às saídas dos participantes para conhecer a cidade sede.
Quem realmente aproveitou do encontro percebeu que as discussões fortalecem as formações de opinião e de luta para o movimento. Painéis, oficinas, grupos de discussão e de trabalho, mini-cursos, núcleos de vivência e a mostra de vídeos fizeram com que o participante tivesse que optar entre as suas preferências. A programação alcançava toda a área da comunicação e do movimento estudantil. No credenciamento, as escolhas das oficinas e dos núcleos de vivências foram complicadas pela falta de informação sobre as opções disponíveis, mas, ainda assim, era possível se interessar por mais de uma opção.
Optar, se arriscando, pelo movimento riot grrl ou mesmo pela contrapropaganda foram as maneiras que encontramos para conhecer o que até então eram dois enigmas. Quanto aos núcleos, tivemos, apesar do pouco tempo, oportunidades interessantes. No Quissamã, percebeu-se que o MST vai muito além das barracas de lona amiúde retratadas pelos meios de comunicação. Já em São Cristóvão, as dificuldades de uma cidade histórica e repleta de belezas (tanto da arquitetura barroca quanto naturais) sem incentivos para se desenvolver a partir daí se fizeram visíveis.
O ponto alto do encontro foram os grupos de estudo e trabalho. No das políticas de comunicação, do democom e do movimento de base, encontramos espaços democráticos por concepção, no qual as pessoas se sentem à vontade realmente para colocarem as questões inquietantes em cada escola de comunicação. Por isso, poderíamos investir mais nestes espaços nos próximos encontros.
O painel sobre meio ambiente foi bem esvaziado. Pena de quem perdeu a oportunidade de se apropriar e discutir um pouco mais sobre a relação da mídia com as temáticas ambientais, o ecossocialismo e o polêmico projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Depois da explanação d@s palestrantes, alguns estudantes de comunicação do campus III da Uneb, Juazeiro-Ba, fizeram uma intervenção. Recitaram um cordel, distribuíram um panfleto sobre as impressões do coletivo Juazeiro de estudantes de comunicação com relação ao projeto de transposição e falaram sobre o papel do movimento estudantil na discussão deste palpitante assunto.
Por fim, no Corecom, além das discussões paralelas e pessoais, foram alguns dos pontos levantados: a falta de debate para formação política; a comida vegetariana não agradou; a mobilização tem de acontecer nas universidades por meio dos pré-Erecons; é necessário pensar uma grade de programação que seja convidativa aos estudantes, como forma de evitar a dispersão que ocorreu nos últimos dias de encontro; e faltou sinalização dentro do campus da UFS.
De toda forma, o encontro foi muito positivo, possibilitou uma integração maior entre @s estudantes dos três estados participantes. Das longas noites das culturais, apesar dos covers de Raul e Nação Zumbi, destacamos como melhores bandas as que trouxeram um ritmo mais regional.
O encontro, organizado por estudantes para estudantes, alcançou o seu principal objetivo, apesar das dificuldades. A perspectiva, a partir dali, é o fortalecimento da Regional Nordeste I, pois o encontro foi enriquecedor para os trabalhos de base e dos coletivos. Afinal, a gente sabe que as correntes incomodam, e muito. E agora, temos um desafio a cumprir para 2008: levar adiante um encontro que se aproveite das falhas e acertos deste último Erecom.

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